quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

"Lirismo Radical"



As nossas sujeiras são nossas
no nosso orgasmo atemporal.
Orgia insana que nos entorpece.
Animais vorazes, insaciáveis,
nos vamos nessa gula desmedida,
perdida em plagas e recôncavos do ser:
a sujeira é nossa se é nosso o viver...

Os nossos momentos são nossos.
Sonhos reais em nada pudicos
no maldito ato do prazer carnal
sem medidas, total desvario,
num cio das carnes excitadas,
suadas, arfantes, amantes normais,
nos querermos mais se a fome não passa:
as bocas não param, os corpos se pedem...

As nossas sujeiras são nossas
se nos lambuzamos, incautos animais.
Quanto ao resto, tanto faz:
melindres do falso puritanismo
não podem conter a fúria inócua
de homem e mulher em coito insano
na orgia hospedada entre quatro paredes.
Porque as nossas sujeiras são nossas
e ninguém tem nada a ver com isso.



Do livro “57 Poemas Brasileiros”, 1997.

2 comentários:

Unknown disse...

Sim, somo insanos nos nossos desejos sexuais, e mais insano ainda é quando as pessoas demonstram as suas insanidades no desejo de serem desejadas e possuídas e depois se encodem atrás de pudores não condizentes com a manifestação dos seus desejos através de suas roupas, visto que, o seu puritanismo não lhe permite dizer isso abertamente!
O homem é um “animal” sempre disposto a possuir o objeto do seu desejo, mas, ver-se preso às indiferenças da mulher que mesmo tendo o desejo de ela ser possuída nos cantos mais obscuros da sua mente, simplesmente se esconder atrás dos tabus que ela mesma diz recusar, no entanto, não se ver capaz de olhar de frente e assumir isso primeiramente para si mesma. Não obstante, esse desejo mostra-se cada vez mais latente na forma de se vestir quando ela diz tudo o que a sua boca não lhe permite dizer!...


Ed Sacramento

Sérgio Cortêz disse...

Edson, muito obrigado por sua detalhada análise da obra. Os dogmas impostos a nós ao longo dos anos possuem aspectos tanto positivos quanto negativos - importante mesmo é que tenhamos a consciência necessária para questioná-los, assim como você o fez. Saudações cordiais.