domingo, 28 de novembro de 2010
"Brasil Lido"
Super-homem, Wolverine
Homem-Aranha ou Mulher-Invisível.
Imaginação plástica
Em acrílicas emoções.
Gente que se liga nessa gente
Faz a utopia ser verdade
Pois a luta entre o bem e o mal
Está mais presente nas páginas do dia-a-dia.
Analfabeto não sabe das coisas.
Analfabeto não lê gibi.
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
"Moda"
A tua moda não intui a minha moda.
E o teu durex não colou o que quebrei.
São coisas da oratória
nessa vida que é uma oração.
Um imenso quartel de bobagens
e bagagens, silenciosas como gatos.
À espera do próximo avião
eu me encontro, rumo ao que é silêncio.
Subjetivamente e abstrativamente,
vou nas metáforas desta moda:
tudo sob controle.
Controle do modo
com o qual você me seduziu.
Talvez uma puta que pariu um anjo
que beijava a boca do Diabo à sua moda
e ao seu querer:
nada mais que Brasil.
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
"A Mais Solitária Canção..."
Eu
só
mente.
É mentira:
há coisas ao meu redor.
Objetos mentirosos
solidão.
Eu
comigo
pronomes.
E mais:
os nomes e coisas com as quais convivo.
Corpos independentes
solidão.
Eu
tu
útero.
Não havia
a solidão de todos os dias.
Corpos
ligados
solidão.
Eu mundo
participação.
E faço-me
Parte desse mundo e no meu mundo
vastidão
vazia
solidão.
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
"Angústia"
A mágoa água as águas
desse pranto que não choro
por fora.
Por dentro há desejo
sobejo e seco
que não cabe em si
por não caber em mim.
No peito sangrado
fatigado de tanta juventude
de um viver assim tão pouco
tão tosco que se expande a ti.
Mas as palavras estão ausentes
presente só a mudez
que se fez na boca
aguada, magoada
de tanto pranto que jamais choramos
por fora – nada.
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
"O Cântico Dos Jesuítas"
E veio a maré cheia
Trazendo a ameaça pelo Atlântico.
Não as espadas ou as chibatas,
A ameaça: o desejo insaciável do ensino,
Não do que Jesus disse,
Mas das suas orações que a Igreja mudou.
E veio o índio ainda puro e vivaz
Trazendo ouro e outros pedaços da ambição
E os genocidas do oceano sanaram a dívida
Trazendo a fome, a peste, a febre e a morte.
Em nome de Jesus eles trouxeram
Com as orações que Ele ensinou.
E veio o Jesuíta com sua flauta doce
Salgar o que era puro em missa pós-caduquismo
E veio ensinar ao índio o Pai-Nosso
Trazendo o veneno do esquecimento.
Não do que disse Jesus,
Mas pelo que ele nos entregou.
E o índio perdeu sua origem,
Sua cultura e sua livre persona.
E cantou e morreu e mais nada sobrou:
Índio rezando frente a um crucifixo,
Não no qual Jesus foi pendurado,
Mas naquele em que o índio se pendurou...
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
"Ave-Maria"
Para os policiais e marginais do dia-a-dia:
Ave-Maria!
Para os muambeiros do morro e da coxia:
Ave-Maria!
Para os parceiros da droga e da vida vazia:
Ave-Maria!
Para cristãos e evangélicos com sua Bíblia:
Ave-Maria!
Para os eleitos que cantam sua hipocrisia:
Ave-Maria!
Para os poetas que veneram as antologias:
Ave-Maria!
Para os monarquistas que almejam outras especiarias:
Ave-Maria!
Para os maconheiros que padecem na aptialia:
Ave-Maria!
Para os negros que trazem na raça a primazia:
Ave-Maria!
Para a dona-de-casa que desconhece a alegria:
Ave-Maria!
Para o trabalhador que sonha obter alforria:
Ave-Maria!
Para a luz no fim do túnel que há tempos não reluzia:
Ave-Maria!
Para o Brasil enfim,
Que surge e morre
Com o nascer e o pôr-do-sol, todos os dias:
Ave-Maria!
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
"Prostituta De Botequim"
Seu nome é Joaquim:
prostituta de botequim.
Sua roupa é de cetim:
prostituta de botequim.
Sua bolsa não tem nada afim:
prostituta de botequim.
Sua tatuagem não é de nanquim:
prostituta de botequim.
Seus olhos não brilham assim:
prostituta de botequim.
Seus sonhos, pra lá de Pequim:
prostituta de botequim.
Seu amor não parte de mim:
prostituta de botequim.
Seu tormento é desconhecer o “sim”:
prostituta de botequim.
Nas rimas de seu nome sem rimas
Não vejo conto ou verso feliz
Vejo um bar, espelunca, botequim,
Onde o social, que sempre lhe renega,
Assiste impassível à agonia de seu fim...
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
"Corpo Santo"
Dou pra ti do meu pedaço
E te ofereço o meu perigo
Assumo o risco de outra conta
Se me afronta o preconceito
De querer-te no meu peito
Pra viver-te um pouco mais...
Vou ao cais da insanidade
De quem vive a ter desejos
Onde o alvo é encoberto
Pelo certo que imperfeito
Me impede de ser teu.
Sou ateu para as más línguas
Que se calem ante a proposta
Que me fazes com um olhar
Vou ao mar, me afogo em prantos
Onde o cais da tempestade
É não ter-te a me esperar.
Dou pra ti meu corpo inteiro
Onde o meio é tua gula
De perder-se em corpo santo.
Lanço um cântico que escutas
E desfrutas da esperança
De me ter inteiro e teu
Pra fazer da pouca idade
Esse cais da insanidade
Que é querer-te, enfim, mulher...
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
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