Há de ser um dia livro
Tudo aquilo que vivi
Por prazer ou por vaidade.
Há de ser uma saudade
Que por instintivo orgulho
Vou dizer que não senti.
Hei de ler este meu livro
Quando o peso destes anos
Não couber em qualquer página...
A gota d’água, a gota poesia
A gota da minha poesia.
A gota mulher, a gota homem
A gota mistério, a gota que esgota
A gota que enche, a gota d’água.
A gota d’água
De um ribeirão, de uma torneira
De um balde, cheia de vida
Cheia de criação, cheia de oxigênio
Cheia de balde, cheia de torneira
Cheia de ribeirão.
A gota mistério, a gota histérica
A gota calada, sua real plenitude
Sua ideologia de ser apenas a parte
Menor ainda maior
Que toda e qualquer nuvem.
Sua vida de rumo incerto, seu anonimato
De ser apenas uma gota.
A gota d’água que cabe num copo
Não cabe no tempo.
Que cai sem destino, que cai calada
Mas cai, dá um salto, um salto para a vida
Vida de um balde, vida em uma torneira
Vida em um ribeirão...
Depressão em forma de orgasmo
sarcasmo, desgraça da vida
sofrida, seca, trabalha e pensa
não pensa:
é só um pano de prato.
A mão que lhe afaga é suave
ou quase, a mão da senhora calejada
amada, por um homem que não lhe toca
marasmo:
é só um pano de prato.
A alça que lhe prende é de madeira
besteira, sua vida ali está presa
surpresa, ele vai ao chão e não é amparado
magoado:
é só um pano de prato.
A criança que lhe pisa é herança
esperança, á água limpeza, a dor
pregador:
é só um pano de prato.
O gato que lhe solta pelos o despreza
reza, ao deus dos panos um amparo
raro, um olhar que aprecie sua beleza
o fato:
é só um pano de prato.
E o tempo há de vir e apodrecer-lhe
e ver-lhe: jogado um monturo de um muro
apuro: será apenas mais um maltrato
mas é grato:
é seu destino de pano de prato.
Super-homem, Wolverine
Homem-Aranha ou Mulher-Invisível.
Imaginação plástica
Em acrílicas emoções.
Gente que se liga nessa gente
Faz a utopia ser verdade
Pois a luta entre o bem e o mal
Está mais presente nas páginas do dia-a-dia.
Analfabeto não sabe das coisas.
Analfabeto não lê gibi.
A tua moda não intui a minha moda.
E o teu durex não colou o que quebrei.
São coisas da oratória
nessa vida que é uma oração.
Um imenso quartel de bobagens
e bagagens, silenciosas como gatos.
À espera do próximo avião
eu me encontro, rumo ao que é silêncio.
Subjetivamente e abstrativamente,
vou nas metáforas desta moda:
tudo sob controle.
Controle do modo
com o qual você me seduziu.
Talvez uma puta que pariu um anjo
que beijava a boca do Diabo à sua moda
e ao seu querer:
nada mais que Brasil.
E veio a maré cheia
Trazendo a ameaça pelo Atlântico.
Não as espadas ou as chibatas,
A ameaça: o desejo insaciável do ensino,
Não do que Jesus disse,
Mas das suas orações que a Igreja mudou.
E veio o índio ainda puro e vivaz
Trazendo ouro e outros pedaços da ambição
E os genocidas do oceano sanaram a dívida
Trazendo a fome, a peste, a febre e a morte.
Em nome de Jesus eles trouxeram
Com as orações que Ele ensinou.
E veio o Jesuíta com sua flauta doce
Salgar o que era puro em missa pós-caduquismo
E veio ensinar ao índio o Pai-Nosso
Trazendo o veneno do esquecimento.
Não do que disse Jesus,
Mas pelo que ele nos entregou.
E o índio perdeu sua origem,
Sua cultura e sua livre persona.
E cantou e morreu e mais nada sobrou:
Índio rezando frente a um crucifixo,
Não no qual Jesus foi pendurado,
Mas naquele em que o índio se pendurou...
Para os policiais e marginais do dia-a-dia:
Ave-Maria!
Para os muambeiros do morro e da coxia:
Ave-Maria!
Para os parceiros da droga e da vida vazia:
Ave-Maria!
Para cristãos e evangélicos com sua Bíblia:
Ave-Maria!
Para os eleitos que cantam sua hipocrisia:
Ave-Maria!
Para os poetas que veneram as antologias:
Ave-Maria!
Para os monarquistas que almejam outras especiarias:
Ave-Maria!
Para os maconheiros que padecem na aptialia:
Ave-Maria!
Para os negros que trazem na raça a primazia:
Ave-Maria!
Para a dona-de-casa que desconhece a alegria:
Ave-Maria!
Para o trabalhador que sonha obter alforria:
Ave-Maria!
Para a luz no fim do túnel que há tempos não reluzia:
Ave-Maria!
Para o Brasil enfim,
Que surge e morre
Com o nascer e o pôr-do-sol, todos os dias:
Ave-Maria!
Seu nome é Joaquim:
prostituta de botequim.
Sua roupa é de cetim:
prostituta de botequim.
Sua bolsa não tem nada afim:
prostituta de botequim.
Sua tatuagem não é de nanquim:
prostituta de botequim.
Seus olhos não brilham assim:
prostituta de botequim.
Seus sonhos, pra lá de Pequim:
prostituta de botequim.
Seu amor não parte de mim:
prostituta de botequim.
Seu tormento é desconhecer o “sim”:
prostituta de botequim.
Nas rimas de seu nome sem rimas
Não vejo conto ou verso feliz
Vejo um bar, espelunca, botequim,
Onde o social, que sempre lhe renega,
Assiste impassível à agonia de seu fim...
Dou pra ti do meu pedaço
E te ofereço o meu perigo
Assumo o risco de outra conta
Se me afronta o preconceito
De querer-te no meu peito
Pra viver-te um pouco mais...
Vou ao cais da insanidade
De quem vive a ter desejos
Onde o alvo é encoberto
Pelo certo que imperfeito
Me impede de ser teu.
Sou ateu para as más línguas
Que se calem ante a proposta
Que me fazes com um olhar
Vou ao mar, me afogo em prantos
Onde o cais da tempestade
É não ter-te a me esperar.
Dou pra ti meu corpo inteiro
Onde o meio é tua gula
De perder-se em corpo santo.
Lanço um cântico que escutas
E desfrutas da esperança
De me ter inteiro e teu
Pra fazer da pouca idade
Esse cais da insanidade
Que é querer-te, enfim, mulher...
Vou te pegar roubar teu destino drogar-te com olhos e levar-te ao infinito: Estou aflito, sequiosos em afagar-te, incansável, insaciável de tanto amor. vou fazer isso e muito mais... Vou te deitar perder-me em tua boca saborear tua língua rastejar em tua pele arrancar teu sutiã com os dentes e deslizar, lentamente, pelo perfume do teu cheio. Acarinhar teus seios invadir teu corpo com meu corpo que é puro pecado rolar contigo nas águas do nosso leito e, como efeito, invadir a noite com nosso calor que é pura poesia e maior a heresia de não conhecermos limites: ninguém nos assiste e assim vou fazer isso e muito mais... E quando o dia clarear e a luz do sol abrir nossos, olhos, vou redescobrir-me sozinho sem te ter no meu caminho que far-se-á pura solidão. Tudo será sonho, nada o que se diz Tudo que, contigo ainda não fiz e n’outro sonho pensarei estar fazendo...
Sou maluco, chamam-me de bicho
e me convidam para festas.
Oferecem-me umas vitaminas
feitas com comigo-ninguém-pode,
espada-de-São-Jorge, leite com manga
e eu bebo, que sou maluco.
Chamam-me de bicho
e muito mal me visto,
com calças e sapatos envelhecidos,
pares diferentes:
no meio dessa gente, sou bicho.
Arrumo minhas malas
e vou para lugar nenhum:
insônia letárgica,
realidade mágica,
intrépido truque:
e há quem me amaluque.
Deixo o cabelo crescer,
permito nascer a barba imberbe,
morro em meu viver.
Correndo, caminho,
acompanhadamente sozinho,
criando velhos neologismos,
encontrando quem me chame de bicho.
Sou maluco: que assim me denominam.
Sou bicho: que assim me fazem.
Mas nada sou sem o toque ardente do teu beijo...
E eu, melancólico,
A relembrar, bucólico
O nosso alcoólico jeito de amar
E de nos dar de nossos corpos
De nos embriagarmos com tantos detalhes
Que, de tão pequenos, pouco se fazem...
A saliva nas bocas secas,
O toque nas tuas melenas,
O sabor do beijo e das línguas
Sim, a vida ensina
A nossa sina feito cruz que não carregamos
Pois arrastamos
Pelos vales e precipícios do desatino
Destino daqueles
Que fazem pouco dos detalhes.
O meu jeito de te olhar pedindo mais,
O teu jeito de pedir quando é demais
Todo o pequeno universo que apraz
Os amantes do presente sem porvir
E há de vir uma saudade tão mordaz
Dos detalhes que, de tão pequenos,
Parecem infinitesimais.
E eu, melancólico
Num momento monótono
Numa solidão alcoolizada
E mais nada, só detalhes
Os quais relembro, sem querer,
Quase que por instinto
Detalhes que, de tão pequenos,
Hoje parecem tão distantes
E de tão grandes, infinitos...
Padecer sem fim é ficar sem o seu beijo.
O sabor do seu corpo
Tão louco e tão morno
No céu de minha boca.
Sua língua mais louca
A procurar ofegante
Um desejo infante
De ser tão mulher
Pra saber como é...
Falta que sinto de ti
Do teu jeito tão matreiro
De sorrir e me benzer
Com sua saliva em minha boca
Medindo forçar pra conter o prazer.
Sua pele debutante
É lembrança restante
Passado que não volta,
Infelizmente não volta...
Hoje tenho de amargar
A distância a nos fustigar
Impiedosa e indiferente.
Não há mais o sabor do seu beijo
Nem o odor do seu desejo
Ou mesmo meus lábios mornos.
Há solidão, vazio que não finda,
Há quem minta, diga injúrias de você,
Não há como te ver pra te deter entre meus braços,
Não há mais seus abraços,
Não há mais seu beijo,
Não existe mais nada...
Chega mais, diz que me ama
Deixe em minha boca
O gosto dessa chama
Que é teu beijo...
Prova do meu desejo
E deguste cada pedaço.
Somos a saída do mar de sargaços
Que são nossas vidas:
Somos a única saída.
O abraço que te espera
É feito de aço
Composto de amassos
Sorrisos na despedida.
Somos a saída desse obscuro pecado
Que é amar pra ser amado,
Viver para ser degolado
Por teus abraços
Razão de minha vida:
Somos a única saída.
Chega mais, beija minha boca
Tão rouca e tão louca
À espera do sabor do mel
Na tua saliva – ainda temos saída
Pra fugir desse mundo perverso
E viver no reverso da paixão
Que é esse amor, fuga da solidão
Que é te abraçar e me esmagar no teu carinho.
Chega mais, não me deixe sozinho
Que eu não deixo a tua vida
Por ser ela nossa única saída
Pra qualquer coisa melhor...
Deixo-a só
e sou o infinito em que caminhas,
onde adivinhas o princípio do que sou...
E vou mais suave em pensamentos
e no meu intento de não mais deixar-te.
Estar nos teus passos
e fazer dos teus suspiros a razão...
E se adivinhas o princípio aqui presente,
torna-te onipotente
frente às provas mais cabais
em que tu vais, caminhando entre estrelas
e por não vê-las tens mais brilho
e, de mais bela, mais cristais...
Deixo-a só
e sou o passado às tuas costas
o qual tu gostas de recordar, a eterna lembrança de um sorriso.
Por tudo isso, vou contigo
por todas as calçadas em que passas.
E se fracassas, sou teu pranto
que, no entanto, é todo um mar
onde sou peixe e sou marisco. E não me arrisco a desbravar
os limites da areia quente na qual me faço o teu caminhar...
Deixo-a só
e sou o horizonte à tua espera, o infinito em que caminhas
e onde tinhas a vontade voar. E serei par de tuas asas flutuantes
e, de andante, sou a certeza a apaziguar
de que teus passos rumam a esse infinito:
infinito de teus passos, teu sorriso
onde não mais tornarei a te deixar...
Sim, não mais seguirei estradas tortas
nem vou bebericar agrotóxicos da ilusão
ou mesmo quebrantar o coração:
no peito, veneno na surdina funesta.
Houve uma fresta e por ela tu passaste, mas mergulhaste comigo, sem ter fim, nos mais profundos olhares desditosos.
Sim, não mais far-me-ei tua intenção
que não satisfaço teus gostos.
No meu rosto, a herança triste
de quem inexiste para ti
e se faz infortúnio que importuna
na fortuna da tua beleza:
mas não serei arestas do teu passado.
E repensado o porvir se não sou do teu agrado,
se para ti a estética é estática, feita de mídia,
não me faço de bom grado, e sim logrado:
far-me-ei dublê de corpo às tuas vaidades.
E quanto à perfeição grega que desejas,
hei de possuí-la de forma sobeja:
músculos, carne, pelos e cabelos cacheados...
Sim, este ator que está em cena
ganha somente a tua pena,
tua comiseração e frigidez:
o amor fica para o dublê...
Dorme...
Dorme teu sono apaziguado.
Sorria em teu sonho de rosa
Com o coração delicado,
Jamais magoado - pétala branda,
Doce odor que tudo canta
E encanta...
Dorme...
Dorme teu sono de bruma,
Sorria feito brisa
E dê mais graça à minha noite insone.
Descansa, que não somem os alentos
Que a cada momento te oferto,
Te aperto...
Dorme...
Dorme feito criança,
Que te beijo o desnudado rosto de nuvem
E vou ao mundo dos teus sonhos tranqüilos.
Repousa que o dia já chega
E se quando acordares me encontrares dormindo,
Descansa comigo em meu sono de menino...
Eu te amo porque te amo.
Assim disse o poeta de Itabira.
Mas será que te amo só porque te amo?
Será que não há mais razões para te amar?
Sim, te amo porque te amo,
Porque te sinto amor...
Porque desejo tocar teu corpo
E sentir teu cheiro misturar-se ao meu...
Sentir-te totalmente
E, na mente, te ter no peito
Quem sabe para sempre
Ou talvez por uma só noite...
Eu te amo porque quero amar-te
Em todas as noites de todos os mundos.
Em nossos mundos, amar-te
E para sempre amar-te
Viver-te cada momento,
Cada lamento e cada pranto:
Para sempre amar-te...
Eu te amo porque te amo.
E que não seja simples amor e um por quê,
E que não seja eterno enquanto venha a durar,
Mas que seja infinito eternamente...
Te amo
simples e errado
de coração desbotado,
pranto farpado...
Um espinho que fere
quando toco a pele
do teu corpo: entorpece toda a dor que entristece. O sorriso que te oferto, por certo, não chega perto
de tanto que sinto por ti...
Te amo,
simples e solitário. Feito vida no aquário,
estou preso, peito indefeso diante da tua beleza que me escraviza,
no amor do Sol que brilha
só para chamar-te a atenção
- mas não em vão,
por tanto que sinto por ti...
Te amo
de brilho nos olhos,
de lábios sequiosos por sentir o teu gosto.
E no teu rosto, aurora meiga que me pede: deixa-me...
Mas não te deixo,
mas não te esqueço,
mas não me queixo
porque te amo...
Há quem espere uma colheita
Bem mais próspera somente
Se a proposta funcionar...
Há quem espere destes frutos
Desatinos mais maduros Ao que está pra se acertar.
Sejam benditos os frutos
Elevando uma proposta
Indecente por si só.
Ante a mudança de estado
Nos estágios bissextais
Que transmudam a elegância
Na ganância desse ópio
Em que o vício os leva e traz.
Quem semeia, aguarda ansioso
A colheita que se espera E que pode ou não chegar
Dependendo da adubagem.
Há quem espere essa viagem
Rumo a outra dimensão
Que não esta já tão gasta
Frente à vasta escuridão
Que o futuro nos concede
Se tais frutos não vingarem...
O menino se matou
Por não saber que não existe suicídio
Para o espírito que é eterno.
Hoje preso está
Às lágrimas da perda da matéria
Abandonada a todo o custo...
As pinturas são a prova da loucura
Morre nos livros o que um dia aconteceu
Professores é que fazem os momentos eternos
Grandes homens e mulheres da realeza do saber...
Explica-me que o amor é essencial.
Explica-me que dor é vida pra quem sabe viver.
Explica-me que a paz é mais importante que a guerra
Ensina-me o que eu preciso aprender...
O menino se matou
Por não ter sido compreendido
Ele voltou pr’o verdadeiro mundo.
Mas voltou da maneira errada
E vai ficar a dor de alguém
Que já se foi...