domingo, 28 de novembro de 2010

"O Cântico Dos Jesuítas"





E veio a maré cheia
Trazendo a ameaça pelo Atlântico.
Não as espadas ou as chibatas,
A ameaça: o desejo insaciável do ensino,
Não do que Jesus disse,
Mas das suas orações que a Igreja mudou.

E veio o índio ainda puro e vivaz
Trazendo ouro e outros pedaços da ambição
E os genocidas do oceano sanaram a dívida
Trazendo a fome, a peste, a febre e a morte.
Em nome de Jesus eles trouxeram
Com as orações que Ele ensinou.

E veio o Jesuíta com sua flauta doce
Salgar o que era puro em missa pós-caduquismo
E veio ensinar ao índio o Pai-Nosso
Trazendo o veneno do esquecimento.
Não do que disse Jesus,
Mas pelo que ele nos entregou.

E o índio perdeu sua origem,
Sua cultura e sua livre persona.
E cantou e morreu e mais nada sobrou:
Índio rezando frente a um crucifixo,
Não no qual Jesus foi pendurado,
Mas naquele em que o índio se pendurou...



Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.

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