Dos cacos vive o poeta:
coração estilhaçado
pelas desgraças da vida
e amores desamados
que desarmaram o vate
e lhe causaram feridas
que sangram versos...
Dos desafetos se sustenta o poeta,
e de afagos perdidos no tempo
ao sabor da brisa hoje tão sem gosto.
Uma espécie de encosto
se apodera do poeta
e faz caberem nas letras
os desgostos no meu peito.
E, como efeito, surgem versos
que só o vate entende
e os faz traduzirem-se
nas rugas e cravos de seu rosto.
De lágrimas são feitos os contornos
do cenho finito ante a morte
que abraça o poeta com sorte,
feito entorpecente contíguo,
sombrios recôncavos do ser,
canto comum dos poetas
que não se deixam desvanecer...
Dos cacos se sustenta o poeta,
trapos à sua imagem e semelhança,
alimento untado em desesperança
do vate maluco e suicida
que sobrevive aos desafetos
e, somente por isso, sangra versos...
Do livro “57 Poemas Brasileiros”, 1997.
Nenhum comentário:
Postar um comentário