quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
"Pan Am"
A nossa música não toca,
nem evoca sabores que curtimos
no passado, farpado,
por redes e intrigas fermentadas a pranto e saudade
que nunca sentimos.
A nossa música não soa
ou ecoa pelas ondas invisíveis
que circulam pelo ar.
Mal de amar e de doar o coração onipotente:
presente, só a solidão muda a nos acompanhar.
A nossa música perdeu o ritmo.
Ficou velha e toca apenas nos programas nostálgicos
ou nos palcos de serestas vazias,
nas noites frias, nos olhos úmidos,
nos remorsos: sereno ar
a pousar sobre a terra viciada em vida
- despedida com vontade de chegar...
Voo alto em partituras dissonantes
que, antes, davam tons a nossas vidas:
saborosa sensação de não te ter...
Do livro “57 Poemas Brasileiros”, 1997.
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