Ah, vida, vulgar vida!
A vida preservada à custa das feridas
que sangram meu peito...
Concede um feito ardoroso
que eu te ofereço outra vida...
Vida dura, vida de atropelos,
puxa os cabelos e faz a dor
parecer uma despedida.
Oh, vida de tantos poetas,
de tantos amores além da vida...
Concede o sossego em meu peito
Que eu te ofereço o efeito vida...
Concede um amor por meu peito
que eu te ofereço outra partilha,
outra comédia por pura e simples sorte.
Vida de solidão, vida de amarguras,
te ofereço todos os meus dias,
todo o meu tempo e minhas alegrias
e tu me atiraras num rumo sem norte...
Vida desmedida, de mentiras e estátuas paradas,
qual fossem alçar voo.
Mas o voo não chega, tão cedo não chega,
a vida não chega – mas a chaga se faz dolorida.
Vida de solidão, de caos e passaporte
quando, depois, vem seu grande prêmio:
a morte...
Do livro “57 Poemas Brasileiros”, 1997.
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