“...criei cenários
onde vivi interpretações
que jamais consagraram minha alma...”
Num banco do Brasil
perdido numa praça não encontrada
em algum lugar de Paracambi,
um mendigo se deita.
Ele obtém a cobertura da imprensa
através de jornais municipais
sob os quais se acomoda,
fugindo do frio e de sua realidade,
fugindo da assiduidade
de sentimentos que, antes,
não lhe eram comuns...
O mendigo que já não dorme
mas esconde-se da realidade funesta,
é o Brasil deitado em um banco.
E no metrô camuflado de pressa
luxo e riqueza ao estilo de Amélia
o executivo que executa ordens
prepara-se para assumir seu posto
numa filial do Banco do Brasil.
Lá ele tocará em dinheiro,
em papéis e contas de energia.
Ele não pode imaginar o mendigo imundo
que dorme em outro canto do Brasil
tão longe dali e tão longe de tudo,
tão morto quanto ele que morreu em vida,
duas almas separadas pela matéria fantasma:
a carne...
Indo à míngua tentando entender a língua
de dois Brasis tão diferentes
descubro, já tarde, que não sou poliglota...
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
2 comentários:
É lamentável que nos tempos atuais ainda haja diferença social.. Nosso Brasil, tão farto..
Diferença entre pessoas no contexto de uma mesma sociedade, colocando alguns indivíduos em condições estruturalmente mais vantajosas do que outros...Parabéns Sérgio Cortez, belíssimo poema querido!!! :)
Verdade, amiga Cristiane. O pior de tudo é saber que 20 anos se passaram desde que o poema foi escrito e pouca coisa mudou: os "Brasis" continuam distantes e diferentes.
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