BOB se julgava um verdadeiro garanhão
italiano, bem ao estilo Silvester Stallone no filme “Rock, Um Lutador” quando,
na realidade, não passava de um "garanhão-galinha". Menino franzino e de
limitados dotes econômicos, durante muito tempo assistiu a programas
televisivos, como "Bervely Hills” ou “MacGyver – Profissão: Perigo” para
aprender, com os heróis da telinha, a melhor maneira de se dar bem com as meninas ingênuas e ainda sair das enrascadas da vida real.
RAPAZ de muitas, muitas palavras e de uma megalomania incoerente, Bob, por diversas ocasiões, conseguiu se dar bem, levando, de fato, no "bico", muitas
jovens desavisadas, do tipo que encontramos aos bandos circulando sem destino e com poucas ideias na cabeça por praças suburbanas. Mas ideias não faltavam a
Bob, que embromava as pobres-coitadas e logo depois as esquecia, procurando dar
fim à sua insaciável tara por meninas-moças. Em geral um duro, Bob chegou a
descolar um emprego temporário num banco público, dizendo a todos, poucas horas depois,
que era um "bancário de carreira". Porém, não chegou a ficar um ano no cargo,
recebendo um chute traseiro após aplicar galanteios baratos em filhas ou
esposas de clientes comportados.
POR fim, o inevitável aconteceu: duas de suas "presas" apareceram com
supostas crias suas, por mais que alguns de seus amigos insistissem em
dizer que "Bob não seria capaz de reproduzir nada". O fato é que ele teve de
escolher uma delas para concubinar, na ilusão de dar fim à sua inveterada "galinhagem".
TODAVIA, a mãe da segunda pequena – a que teve a sorte de não ser
escolhida por ele – sentiu-se ofendida com a crescente barrigada da filha. Revoltada, contratou uma mãe de santo no terreiro do Caboclo Da Flecha Caída que,
fazendo uso de malévolos sortilégios, entre um alguidar e outro cheio de farofa e
azeite de dendê, obteve o efeito esperado: fez com que Bob ficasse impotente.
SERIA um fim assaz melancólico, ao estilo Nelson Rodrigues, não fosse um
pequeno detalhe: Bob, insatisfeito com sua situação e conhecedor de algumas
rezas fortes, pôs-se a fazer uso de diversas mandingas, tais como ovo de pata
virgem batido no liquidificador com cerveja Malzbier, pele
de porco grelhada com arruda, "garrafada" de gemada com ovo de codorna e catuaba, comida de escola
pública e Tonoklen. Entretanto, nada
conseguia fazê-lo voltar à condição de garanhão-galinha. A mulher em casa já
não sabia mais o que fazer diante das desculpas cada vez mais esfarrapadas de
Bob, que esquivava-se no leito conjugal apenas para não ter de admitir que
dormir era a única coisa que poderia fazer numa cama.
DESESPERADO, lembrou-se que o Natal se aproximava e, tomado por um
impulso infante, pediu a Papai Noel que lhe trouxesse a solução para o
problema, talvez sua última esperança. Na manhã de Natal, o que parecia
impossível aconteceu: Bob encontrou, dentro do pé de meia que deixara próximo à árvore
natalina, um estranho amendoim. Apesar do odor de chulé, devorou a guloseima e sentiu-se imediatamente tomado por uma arrebatadora força, feito o Popeye após comer o espinafre. Desde então, o feitiço da mãe de santo jamais tornou a fazer efeito. Bob hoje vive feliz com a mulher, os filhos e mais "trocentas" ninfetas inocentes nas quais ele está de olho e ainda diz pra todo mundo que "já pegou" - mas que, na
verdade, não sabem nem quem ele é.
Jornal O Gazetão, 1996
Coluna Sociedade Crônica
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