Num país como o Brasil, que tem
organismos de saúde pública infectados pelo vírus do descaso, que possui os
mais variados tipos e espécies de planos de saúde esbanjando adrenalina e cujos
hospitais públicos, em sua grande maioria, entraram em coma e foram
transferidos à UTI em fase terminal a caminho da necropsia, o povo, sempre o
povo, a massa que faz este país andar – ainda que seja com a ajuda de muletas e
rumo à hemodiálise – já se acostumou e até mesmo adaptou-se a algumas
enfermidades, conhecidas popularmente como “ziquiziras”. São moléstias que de
vez em sempre atacam as pessoas desprevenidas num daqueles dias. O povo chega a
pensar que algumas delas fazem bem à saúde, do tipo que você pega uma vez na
vida e nunca mais elas aparecem. Outras estão no dia a dia. Alguns exemplos:
COBREIRO: esse é um dos males mais
frequentes. Ocorre quando você vai trabalhar num verdadeiro ninho de cobras,
quando seus colegas de trabalho são uns puxa-sacos, fofoqueiros, que vivem fazendo
intrigas com o seu nome e você acaba na boca do povo, aturando mau hálito,
muitas vezes injustamente. Para curar esse mal é muito simples: peça demissão
ou transferência em sua empresa para outro município. Geralmente, pega-se só
uma vez.
DOR DE CABEÇA: moléstia muito comum entre os brasileiros. Você acaba tendo dor de cabeça com as mais diversas coisas: as contas do fim do mês, a virgindade da filha (que você espera não se tornar a garota mais conhecida da rua), a namorada do filho (que É a garota mais conhecida da rua), o carro quebrado, o seu disco “Elvis Presley Via Satélite” que empenou, a troca de alguns móveis ou os planos de governo que sempre adoecem a sua caderneta de poupança.
FUNK: mal que vem se espalhando, principalmente entre os jovens. Trata-se de uma verdadeira praga que atormenta os ouvidos dos que possuem maior resistência e Quociente de Inteligência (QI). Assim como o Blues, o Funk possui origem atribuída aos ritmados batuques africanos - a diferença é que, enquanto o Blues faz bem à saúde dos ouvidos, o Funk cria anomalias alienantes. Para evitá-lo, estude bastante e coloque chumaços de algodão nos ouvidos.
DUREZA: esse é o mais comum entre os males que atormentam o povo. Ocorre mensalmente, geralmente entre os dias 10 e 30 de cada mês – isso quando o indivíduo tem a sorte de receber seu estipêndio entre os dias 01 e 05. Entre os dias 06 e 09 ela entra em período latente e até parece que não vai mais voltar... Pura ilusão: ela volta e a cada mês se mostra mais forte. É muito mês pra pouco dinheiro. Para evitá-la, você tem três opções: jogue e ganhe na loteria, monte uma locadora ou, de forma alguma, mas DE FORMA ALGUMA MESMO, seja professor.
Jornal o Gazetão, 1995
Coluna Sociedade Crônica
Coluna Sociedade Crônica
2 comentários:
Gostei demais da crônica ZIQUIZIRAS ....é bem a cara do Brasil, abraços amigo escritor.
Muito obrigado, poeta Maurélio. Seja sempre bem vindo ao Beco da Poesia. Saudações poéticas.
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