quarta-feira, 12 de junho de 2019

Prosaico Relicário


És criatura feita de ternura em pelo
e a indecência de tuas formas
me transforma em teu pecado predileto:
é parte do teu jeito simples
de dar fim aos azedumes
da existência sem sabor.

Aprecio tuas performances sublimes,
feito banquisa a flutuar
sobre águas gélidas e cristalinas.
E então, feito molusco,
rastejo-me diante de toda grandeza
que somente tu tens
e que apenas tu guardas.

A fenda em meu peito fez-se chaga mal curada,
mas tens a estrela de grandeza uma,
mata-borrão que sorveu minhas angústias.
A ternura me deteve
quando descobri a paz dos braços teus:
instante de pureza e encanto no meu peito.

Sou teu relicário de araque,
um conselho esquecido na vida
entre ouvidos desatentos
e metáforas noturnas.
Sou o que sou, sou quem eu sou,
em corpo, essência e alma:
efêmera fluidez que me faz permanente... 

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