terça-feira, 18 de junho de 2019

Breve Metáfora



Não há tempo que desfolhe
as memórias que me lembram
do que o tempo fez viagem,
com formato e embalagem
de uma lata com amêndoas.

Não há tempo que desfaça
tanto que veio e não veio,
ao acaso e no ocaso,
por destino ou por desfrute
no arruído de lembranças.

Não há tempo que descuide
das minutas que em minutos
guardam fatos, fotos, atos,
emoções vividas, boas,
com formato de pra sempre... 

Sincronizados


Luz dessa minha vida
que reluz sobre tudo o que sou:
traga-me um cálice completo
do vinho mais nobre com o gosto da tua boca.

Entrementes, desfaça as farpas do meu dia,
barroca tecnologia de querer-me o teu bem.
Foi tua luz que me guiou entre charcos e tremedais
pra encontrar assim as plagas serenas do teu abraço.

Luz que abrilhanta esta existência,
que me faz tão rico de modestos detalhes:
perfeita sincronia entre os sons dos teus gemidos
e a tua voz a dizer que me ama. 

domingo, 16 de junho de 2019

Madrigais


Não há males, nem há medos,
tampouco desassossego.
O que nos acerta é o erro
de conferir lógica à mágica
quando nos temos, amantes,
mas sem a intenção de se amar.

De certo, somos de pele,
de química, tesa alquimia.
Completamos a existência vazia
com anseios da paixão faminta
que durante a madrugada infinda
se alimenta de nossos lençóis.

Não há males, nem há medos,
tampouco vicissitudes.
Sem demora, as horas passam,
cantam haustos de um prazer que nos devora
antes que a madrugada termine
e o amanhecer nos desnude. 

Pães e Peixes



Multiplique o teu amor qual pão e peixe.
Multiplique e o reparta comigo, apenas comigo,
que, entre o dito e o não dito,
o farei gênero de imensa necessidade.

Adormece esta minha meia-idade
e faz destes bons anos
tempos de amor e multiplicidade.
Multiplique de boa vontade,
multiplique, apenas multiplique.

O pão e o peixe de nossas vidas
divididos de maneira desmedida,
alimenta cada um dos nossos dias
fartos de amor e outras sentimentalidades,
nossas noites bem servidas de harmonia
e nossa cama com voraz cumplicidade. 

Butete



Envenena-me
para que eu desfaleça
em teus braços.
Ocupando os espaços do teu corpo,
quase morto,
suicidando-me no teu prazer
pra renascer em teus encantos,
tanto quanto me decantem
no mais aprazível fenecer...

Envenena-me
para que eu sobreviva
em teu peito,
sorvendo teu deleite, teu azeite,
teu butete,
prato preferido que me fere
e que interfere feito vício que faz bem:
solstício que ilumina o meu querer,
condimento a este aprazível padecer... 

Aquela Boca


Boca carnuda,
boca que desemboca
na minha boca,
louca, devoradora, inefável,
suculenta carne de púrpura polpa.

Boca bonita
que enforca, me foca, me excita,
aflita, se incita,
arguta e arisca,
explícita tara de uma boca faminta.

Boca que almejo
na minha boca,
língua e saliva,
estrelas cadentes
pelos céus de nossas bocas
reluzindo muito mais
o nosso beijo gutural... 

O Futuro


...e que os dias se levantem,
que despertem ao nosso lado,
tão agrestes quanto os olhos
meio inchados – mal se aguentam.
Mais um dia que começa
dentre tantos, tantos outros...

...e que os dias não escondam
a sabedoria plena
que o futuro nos reserva.
Que estudo seja básico
e o aprendizado exato
com opiniões bem próprias,
firmes, plenas de mudanças,
pr’este mundo complicado
e tão simples de entender.

E aprender sobre este mundo
e outros mundos, onde estejam,
é mudar o nosso mundo
e expandir nosso universo
para o qual não há limites
se há vontade de aprender.

...e que os dias a viver
quantos forem necessários,
façam do futuro incerto
a certeza que o saber
não se constitui de notas,
mas do amor com o qual se aprende.

As Cores Do Mundo


Não há que se temer o coração,
fonte de uma emoção conspícua
e de um licor que deifica toda imagem,
dando cores a um tempo que nos brinda
e clorofila a vastidão de outras paragens.

O bom de amar
é ficar todo aparvalhado.
É deslumbrar-se com as cores do mundo,
deixando para trás um sentimento preto e branco
para viver todos os dias com frescores de outono,
tons mais nobres e harmônicos
da mais requintada beleza.

Não há que se temer o amor então,
que, assim, pincela um mundo outrora preto e branco
e, feito brisa, dá meneio aos nossos dias,
calor e luz, sustento e repouso:
obra-prima dessa nossa fotossíntese...